Ato em defesa da Petrobras tem troca de socos entre petistas e grupo que pede impeachment de Dilma

Confusão ocorre na porta da sede da ABI, onde haverá ato organizado pela CUT e outras centrais sindicais


RIO - Militantes petistas e um grupo que pede o impeachment da presidente Dilma Rousseff se enfrentaram nesta terça-feira na porta da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Centro do Rio, onde ocorre um ato intitulado “em defesa da Petrobras”.
Inicialmente, houve xingamentos e dedo em riste, e foram rasgadas bandeiras do PT e do grupo rival, chamado “Liberdade Anticorrupção”. Em seguida, os militantes partiram para a briga física, e houve troca de socos entre os dois lados. Pelo menos um militante ficou com a mão ferida por causa da briga. Um policial chegou a pegar um vidro de spray de pimenta, mas não jogou nos manifestantes. Pessoas que passavam pelo local também se juntaram aos que protestaram contra o PT.
Os que se opunham ao ato gritaram “Fora, Dilma” e os petistas chamam os adversários de “golpistas” e “coxinhas”. O evento, organizado por petroleiros e centrais sindicais, teve a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Lula chegou às 19h24m à sede da ABI. Como só há uma entrada, o carro em que ele estava passou no meio dos manifestantes pró-PT, que gritaram “Lula, guerreiro do povo brasileiro” e “Lula sai do chão, o petróleo é do povão”.

No chegada, ex-presidente foi cercado de personalidades como os produtores de cinema Lucy e Luiz Carlos Barreto, o ex-presidente do PSB Roberto Amaral, o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) João Pedro Stedile e o vice-presidente do PT, Alberto Cantalice.
No fim da tarde, a confusão do lado de fora fechou completamente o trânsito da Rua Araújo Porto Alegre, onde fica a sede da ABI. Por volta das 18h20m, homens do Batalhão de Choque chegaram à via. Apesar do evento estar marcado para as 18h, muitos manifestantes pró e contra Dilma continuaram do lado de fora do prédio. Os que protestavam contra o governo batiam panelas e pediam a saída da presidente. Um novo conflito aconteceu entre manifestantes depois que o Batalhão da Polícia de Grandes Eventos (BPGE) chegou. Controladores da CET-Rio também estiveram no local para liberar o trânsito na via.
Mesmo com a chegada do reforço policial, manifestantes continuaram a provocação. Os que são a favor do governo gritaram palavras de ordem e os contra bateram panelas.

Um manifestante do lado pró-governo jogou um ovo no lado dos que protestavam contra Dilma. Ele saiu correndo e os policiais foram atrás. Algumas pessoas pensaram se tratar de uma pedra e, com a correria dos policiais e manifestantes, o clima ficou tenso.
Vinte homens do BPGE ficaram enfileirados entres os manifestantes pró e contra o governo. Um dos organizadores, no carro de som, pedia calma. Mas, em seguida, puxava um grito de “olê, olê, olá, Lula, Lula”.
Segundo a PM, 500 manifestantes ficaram do lado de fora da ABI. Um telão em um carro transmitiu o discurso de Lula para quem ficou ao lado de fora. O auditório da ABI tem capacidade para 500 pessoas e muitos não conseguiram entrar.
LULA ATACA A IMPRENSA
Em seu discurso de cerca de 30 minutos, Lula disse que opositores e imprensa tentam criminalizar o PT.
- O que estamos vendo é a criminalização da ascensão de uma classe social nesse país - disse.
- As pessoas subiram um degrau e isso incomoda a elite - completou.
Lula disse que está em curso um plano para “criminalizar” o partido.
- Quando se faz isso, o processo começa pela sentença - disse o ex-presidente, que acrescentou: - É a tal da teoria do domínio do fato. É o pressuposto de que a mãe tem que saber que o filho é drogado ou foi mal na escola.
Lula discursa em evento na ABI - Domingos Peixoto / Agência O Globo
Lula afirmou ainda que a presidente Dilma Rousseff, os petroleiros e os militantes do PT não têm motivos para se envergonhar do escândalo de corrupção na maior estatal do país. O ex-presidente afirmou que Dilma precisa “levantar a cabeça” e governar o país.
- Nossa querida Dilma tem que levantar a cabeça e dizer: eu ganhei as eleições. E governar o país. Não pode ficar dando trela senão ficamos paralisados – disse Lula, queixando-se principalmente do que ele chamou de condenação antecipada da imprensa e da oposição. – Nós ganhamos a eleição e parecemos envergonhados. Eles perderam e andam por aí, pomposos.
Minutos depois de ouvir um apelo do líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, para que Lula volte às ruas para liderar manifestações em defesa da Petrobras, o ex-presidente cobrou dos militantes do PT e dos sindicatos uma reação.
– Em vez de ficarmos chorando, vamos defender o que é nosso. Defender a Petrobras é defender a democracia e defender a democracia é defender a continuidade do desenvolvimento social nesse país – afirmou, aplaudido. – Quero paz e democracia, mas também sabemos brigar. Sobretudo quando o Stedile colocar o exército dele nas ruas.
Lula dedicou pouco tempo às evidências de desvios milionários na Petrobras durante o seu governo. Em tom de brincadeira, disse que em toda família alguém faz “caca” e merece um castigo. Mas afirmou que a Petrobras não pode ser sacrificada pelo erro de “meia dúzia”. Lula preferiu gastar mais tempo se queixando da imprensa, que, segundo ele, repete à exaustão a teoria do domínio do fato, que baseou a condenação dos acusados do escândalo do mensalão.
– A ideia básica é criminalizar antes. Tornar você bandido sem ser investigado ou julgado. Porque quando você for criminalizado pela imprensa começa o processo pela sentença – disse Lula, que afirmou que o papel da imprensa é apenas informar. – Quero dizer para a imprensa que eu já ganhei duas eleições sem ela. O povo já consegue fazer análise sem ouvir formador de opinião.
Lula deu a entender que atribui a corrupção investigada na Lava-Jato como fruto do aumento vertiginoso dos investimentos da Petrobras em seu governo. Numa referência indireta a Pedro Barusco, ex-gerente da estatal que confessou receber propinas desde 1998, no governo de Fernando Henrique Cardoso, afirmou:
- Se você tem um rato na sua casa que rouba um pedacinho de queijo, imagina se você coloca um queijo inteiro?
O ex-presidente disse que existe um plano para “criminalizar a política e da ascensão social de uma parte da sociedade brasileira”, referindo-se ao que ele descreveu como combate da oposição a programas sociais como Bolsa Família.
- Presta atenção. Toda vez que, na História da Humanidade, se tentou criminalizar a política, o resultado foi sempre pior - afirmou Lula, citando o caso da Operação Mãos Limpas na Itália, que levou à prisão políticos envolvidos com a máfia e favoreceu a chegada ao poder do ex-primeiro ministro conservador Silvio Berlusconi.
Ele também citou a queda de ditadores no Oriente Médio como Hosni Mubarak no Egito e Sadam Hussein no Iraque como exemplos que deterioraram ainda mais o contexto político daqueles países.
- Já tem gente lá com saudade do Sadam Hussein, porque no tempo dele se vivia em paz.
Lula disse que tem orgulho de ter revitalizado a industria naval a partir dos investimentos da Petrobras.
- Não pense que eu tenho vergonha de ter inaugurado o Cenpes, um dos maiores centros de pesquisas do mundo. Eu tenho orgulho - disse o ex-presidente, referindo-se ao Centro de Pesquisas da Petrobras, cujas obras são investigadas na Operação Lava-Jato por suspeita de superfaturamento.
Antes do discurso de Lula, o ex-presidente da OAB-RJ, Wadih Damous, que foi candidato a deputado federal pelo PT, fez duras criticas à condução dos processos da Operação Lava-jato pelo juiz Sergio Moro e os procuradores envolvidos. Ele afimou que as delações premiadas eram fruto de “chantagem”, obtidas a partir de tortura psicológica dos presos, que teriam direitos constitucionais desrespeitados. Ele afirmou que se Moro e os procuradores descrevessem esses métodos em um exame da OAB não seriam aprovados.
MANIFESTAÇÕES
Antes de Lula discursar, o líder do MST, João Pedro Stédile, convocou os movimentos sociais para uma série de manifestações no próximo dia 13 de março em defesa da Petrobras. Ele afirmou que os militantes do MST apoiarão os petroleiros no que ele chamou de defesa da estatal da burguesia. Para ele, a corrupção não é o principal problema da Petrobras. Ele acredita que multinacionais de petróleo têm interesse no fim do regime de partilha, adotado no governo Lula para a exploração das reservas do pré-sal, que garante à Petrobras o papel de operadora em todos os campos licitados. Para Stédile, as multinacionais estão usando os tucanos para esse propósito e citou o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) como autor de proposta da revisão do regime de partilha.
– O problema da Petrobras não é corrupção e não se resolve prendendo um ou outro. A corrupção brasileira só se resolve com uma reforma política – disse Stédile. – O que está em jogo agora não é a corrupção, mas a lei da partilha do presidente Lula.
Stédile afirmou que o governo venceu nas urnas, mas foi derrotada no Congresso e na mídia. Agora, precisa reagir indo às ruas. Para isso, ele convocou os militantes que lotavam o auditório a participar de manifestações no próximo dia 13 de março em todo o país em “cada lugar que tiver um simbolo da Petrobras, até num posto de gasolina”. E pediu que o próprio Lula se dedique às manifestações.
- Nos ganhamos as eleicoes nas ruas e agora eles nos derrotaram no Congresso e na mídia. Só temos uma forma de derrotá-los, que é indo para as ruas – disse Stédile, que foi muito aplaudido ao convocar Lula. – Agora que quero mandar um recado para esse aí, que é o maior lider popular do país. Lula, esquece o instituto. Venha para as ruas. O povo brasileiro está pedindo que vocë recupere o velho Lula. Venha fazer as caravanas, venha para as ruas.
CUT: MERCADO QUER PRIVATIZAR A PETROBRAS
Pouco antes do início do evento, o presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, defendeu a separação das investigações de corrupção na Petrobras da preservação da imagem da empresa. Ele defendeu que os corruptores sejam punidos, mas, afirmou que há interesses privados se aproveitando da crise. Na linha da presidente Dilma, ele mencionou as evidências de que já havia corrupção na Petrobras no governo de Fernando Henrique (PSDB).


Petistas acompanham, do lado de fora da ABI, discurso de Lula - Marcelo Piu / Agência O Globo
- Por trás disso há um interesse fundamentalmente do mercado internacional de privatizar a Petrobras, tomá-la do povo brasileiro - disse Freitas, afirmando que a CUT defende a continuidade das investigações da Operação Lava-Jato e a punição dos culpados.
- Não queremos parar CPI, só achamos que tem que ter investigação sobre tudo no Brasil. E não temos dúvida de que a malversação da Petrobras começou no governo antecessor de Lula, de Fernando Henrique Cardoso.
O líder sindical disse ainda que teme que a crise da Petrobras provoque desemprego.
- Estamos aqui para defender a Petrobras como empresa pública. Queremos separar as coisas. Se há corrupção, a apuração é uma bandeira dos trabalhadores. Se há corruptos e corruptores, que sejam punidos. Diferente disso é fazer campanha contra a empresa, que é um patrimônio do país. Seria muito ruim uma quebra da Petrobras por toda a cadeia produtiva que ela representa. São 13% do PIB nacional. Nos preocupa o emprego e o futuro do Brasil.

Fonte:http://oglobo.globo.com/




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